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"As portas do coração "
Acho que ninguém passa a vida
como uma folha em branco,
sem escritos, sem rabiscos.
Tudo vai sendo escrito na alma,
os momentos vão sendo registrados ,
misturando o que foi com o que deixou de ser,
as grandes expectativas com as grandes decepções.
Cada página virada traz as marcas
das que passaram e com o tempo
vamos aprendendo a prudência nas relações.
Quando somos jovens é diferente,
pois a esperança é tão eterna
quanto o amor que toma conta da gente.
Mas os anos nos trazem a vivência,
a desconfiança e a memória das coisas
que nos fizeram mal.
Se na juventude nos jogamos de cara
a cada nova oportunidade,
mais tarde aprendemos a caminhar lentamente,
olhar de longe, tentar reconhecer os riscos
e buscar garantias.
Essas mesmas garantias que só são assinadas depois,
bem depois, caso existam.
A vida não nos abandona
e as oportunidades vão surgindo.
Mas, com elas as feridas que se reabrem,
que revivem e fechamos os olhos a,
talvez, belos instantes de felicidade plena e eterna.
Não sabemos! Não podemos saber!
As pessoas não são iguais, mas tão parecidas!
Não queremos sonhar de novo e cair de novo,
chorar de novo e parecer tolos aos olhos dos outros...
preferimos fechar as portas do coração
e olhar pela fresta, imaginar o que teria sido
se tivéssemos, pelo menos, tentado...
Queremos sempre o amor, nunca a dor que dele resulta.
Queremos o mel, a alegria e até a saudade
que pode incomodar o coração, mas dor... dor não!
Não sabemos, talvez, que seja esse o preço
e que a alegria de amar um tempo
vale mil vezes a dor cravada na alma.
Amar alguém é elevar-se ao ponto nobre da vida.
É tocar o céu e ter a terra aos seus pés.
E se mais tarde os ventos contrários
nos trazem de volta, valeu a viagem,
valeram as lembranças que carregamos
e que nos sustentam.
E entre os escritos da vida, prevalecem,
no fim, o néctar que soubemos tirar das flores,
a poesia que tiramos dos amores,
mesmo daqueles que tiveram fim...
______Letícia Thompson
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